Foto: https://dairygood.org
Sidnei Maschio: O que aconteceu com o preço do leite ao produtor agora em setembro?
Rafael Ribeiro: Segundo levantamento da Scot Consultoria, no pagamento de setembro, referente ao leite entregue em agosto, houve queda de 3,6% em relação ao pagamento anterior, considerando o preço médio nacional. A produção de leite em alta e a dificuldade de escoamento dos produtos lácteos continuam pressionando para baixo o mercado interno.
Sidnei Maschio: Fazendo a conta a partir de junho, quanto foi a queda no preço do leite pago ao produtor até agora?
Rafael Ribeiro: Considerando a média nacional, no acumulado desde junho, quando o preço ao produtor começou a cair, a desvalorização é de 7,5%. No entanto, no Sul do país, o recuo foi de mais de 10,0% neste período.
Sidnei Maschio: Dois mil e quinze e dois mil e dezesseis foram anos de produção e oferta apertadas no nosso mercado doméstico. O que foi que fez o setor mudar completamente de rumo para ter sobra de leite e derivados na praça agora em dois mil e dezessete?
Rafael Ribeiro: De acordo com o Índice Scot Consultoria de Captação de Leite, no acumulado de janeiro a setembro de 2017, a produção aumentou 2,3% em relação ao mesmo período de 2016. O clima mais favorável e os custos de produção menores no primeiro semestre deste ano colaboram com este cenário.
Sidnei Maschio: E hoje, Rafael, como está o comportamento dos preços dos principais insumos usados na produção de leite?
Rafael Ribeiro: Os preços do milho estão em alta desde agosto, em função das exportações aquecidas e expectativa de redução da área na safra de verão 2017/2018. No caso da soja e do farelo de soja, os atrasos nas chuvas e no plantio da safra brasileira, além da demanda mundial firme, são fatores de alta de preços em curto prazo, caso o clima continue prejudicando os trabalhos no campo. Os custos de produção estão em alta desde agosto deste ano.
Sidnei Maschio: A culpa do excesso de leite no nosso mercado interno é do produto importado?
Rafael Ribeiro: Eu atribuo ao aumento da produção interna em 2017, sem que a demanda tenha crescido na mesma proporção. Aliás nos dois últimos anos o consumo foi de queda a estabilidade. As importações têm um peso sim, mas este ano, por exemplo, o volume importado caiu por volta de 30,0% em relação a 2016 e mesmo assim existe a pressão de baixa sobre os preços no mercado interno.
Sidnei Maschio: O Ministério da Agricultura anunciou que vai suspender as importações de leite do Uruguai. Isso resolve o problema do excesso de oferta no mercado nacional?
Rafael Ribeiro: Ajuda, mas não é o único problema do setor que hoje sofre com os choques de oferta no mercado. Como citado, este ano os volumes importados de leite em pó pelo Brasil diminuíram por volta de 30,0% frente a 2016 e mesmo assim temos um cenário de baixa no mercado interno.
Sidnei Maschio: O preço do leite e dos derivados está dando sinais de enfraquecimento no mercado internacional. Como é que isso vai influenciar o setor leiteiro brasileiro daqui para a frente?
Rafael Ribeiro: O mercado internacional tem respondido ao período de safra de leite neozelandesa. As quedas no mercado internacional tendem a aumentar a competitividade do produto importado, em relação nacional.
Sidnei Maschio: A respeito do consumo, dá para a gente começar a ter alguma esperança de mudança no procedimento da população nestes derradeiros meses do ano?
Rafael Ribeiro: A expectativa é sim de uma maior movimentação neste final de ano para produtos como manteiga, creme de leite, leite condensado, que tem o consumo aumentando neste período. O cenário deverá ser melhor que o final de 2016. Por outro lado, o final de ano e começo de ano são ruins para as vendas de leite fluido.
Sidnei Maschio: Juntando tudo, Rafael, o que é que deve acontecer com o preço do leite pago ao produtor agora em outubro?
Rafael Ribeiro: Mantem o viés de baixa, no entanto, o aumento dos custos de produção, as condições ruins das pastagens e as margens da atividade se estreitando deverão interferir no ritmo de crescimento da produção de leite em outubro e novembro, até a retomada do capim e melhoria da capacidade de suporte das pastagens. A intensidade das quedas deverá ser menor agora em outubro e novembro, com o mercado se estabilizando em dezembro.
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